segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Educação artística e sistema educativo: falta cumprir a lei de bases


Comemoram-se este ano os 30 anos da lei de bases do sistema educativo (Lei n.º 46/86) publicado no Diário da Republica de 14 de Outubro de 1986 (I Série n.º 237). Esta foi alterada pelas Leis n.º 115/97, de 19 de Setembro, 49/2005, de 30 de Agosto, e 85/2009, de 27 de Agosto, mantendo contudo as suas características essenciais. E dentro destas características essenciais uma das dimensões que percorre todo o articulado, do pré-escolar ao ensino superior, está relacionada com as artes, com a cultura, com a estética e com a criatividade.

Contudo ao longo de todos estes anos a relação entre as artes, a cultura e a educação, apesar de toda a retórica política, sempre foi uma relação problemática. Relação problemática assente num paradoxo entre a afirmação da sua importância na formação das crianças, jovens e adultos, bem como no desenvolvimento comunitário, e as dificuldades de elaboração de políticas e de meios para a sua efectiva implementação. Veja-se por exemplo o fato de, desde 1973, terem existido mais de 20 grupos de trabalho que se debruçaram sobre esta relação. Dentro destes grupos, e dos relatórios produzidos, desde grupos ligados ao Ministério da Educação, ao Conselho Nacional de Educação e outros ligados a determinadas instituições, o que ressalta de todo este trabalho é a o acentuar permanente da relevância (a) da articulação entre as políticas de educação e da cultura; (b) da educação artística e da educação estética na formação das crianças, jovens e adultos e (c) de se encontrarem formulações políticas e estruturais que contribuam para que as artes na educação sejam um realidade.

Neste contexto, não deixa de ser significante que no Relatório do grupo de contacto entre os Ministérios da Cultura e da Educação, coordenado por Augusto Santos Silva e intitulado “A Educação Artística e a Promoção das Artes na Perspetiva das Políticas Públicas”, publicado em 2000, se escreve logo no ponto 1 que “o objectivo central deve ser garantir a realização do determinado na Lei de Bases do Sistema Educativo, no sentido de que as artes constituam uma dimensão necessária da educação básica para todos. É preciso, pois, criar as condições indispensáveis para que todas as crianças disponham de oportunidades de uma iniciação artística, na sua escolaridade básica” (p. 17).

Passados todos estes anos o panorama desta relação artes-cultura-educação, continua muito preocupante, mantendo-se praticamente inalterado no que diz respeito à escolaridade obrigatória bem como no que se refere às artes no ensino superior, em particular a sua inserção nos cursos que não sejam de natureza artística. A este panorama contrapõe-se o desenvolvimento das práticas artísticas em todo o país, incluindo Açores e Madeira, e a importância que cada vez mais a nível local se dá à dimensão artística e cultural. Veja-se por exemplo o incremento dos designados “quarteirões das artes” ou do trabalho em Idanha-a-Nova como membro da UNESCO nas “Creative Cities Network of Music”.

Ao procurar encontrar razões que ajudem a compreender este aparente paradoxo entre a afirmação da importância das artes na formação e a dificuldade na sua implementação, e de um modo sintético, um duplo e interdependente factor parece estar subjacente a esta dificuldade política e de políticas: (a) a contaminação das políticas públicas por organizações internacionais e (b) as dificuldades internas do campo artístico-educativo.

No primeiro caso, desde o 25 de Abril que as organizações internacionais, desde o FMI à OCDE e depois a União Europeia desempenham um papel relevante na influência política e de políticas. E esta influência, que se traduz não só na disponibilização de financiamentos mas também de aconselhamento técnico, tem sido nefasta pra as artes na educação, veja-se as políticas da troika nos últimos 4 anos, para além da subserviência dos diferentes governos. E isto tem-se traduzido, com raríssimas excepções, no que se tem designado “back to basics”, do ler, escrever e contar, da excessiva funcionalização e utilitarismo da formação, em qualquer nível em que se exerça, de modo a que se possa dar respostas ao tal mercado de trabalho e ao desenvolvimento da economia.

No segundo caso, as diferentes visões existentes acerca do papel das artes na educação e do papel dos artistas, muitas vezes alicerçados em paradigmas bastante afastados dos campos criativos, dos vários mecanismos do poder existentes no interior do campo e da luta por visibilidade social, cultural e outras, dos egos excessivos que se traduzem muitas vezes na dificuldade de ver outros mundos, das práticas pedagógicas no interior das escolas, burocratizadas, academizada, “manualizadas” e muito pouco criativas, e com pouca relação com os mundos das artes, apesar das excepções que existem e felizmente começam a ter um dimensão significativa, afigura-se como outra dimensão desta problemática. Não basta afirmar da importância das artes na educação quando as práticas formativas estão assentes em determinados modelos e “conteúdos” que pouco dignificam o que é estruturante nas aprendizagens artísticas: a criatividade, o desconhecido.

Deste modo importa, reolhar para esta relação artes-cultura-educação, de modo a cumprir o que de inovador ainda se mantém na Lei de Bases do Sistema Educativo, utilizando as palavras de Alexandre Quintanilha, em relação à ciência mas que se pode transpor para a educação artística: .] temos de nos sentir insatisfeitos com o conhecimento atual. sentir profundamente que as explicações que existem para uma determinada pergunta não nos satisfazem. que essas explicações se contradizem e parecem invocar muitas mais perguntas.
sem imaginação também ninguém pode ser cientista [ser pessoa, ser artista]. temos de ter a coragem para pensar em respostas "fora da caixa". imaginar soluções, muitas vezes até mesmo contraintuitivas. não ter medo de mergulhar no escuro, de nos sentirmos confusos e até um pouco perdidos à procura de algo que não sabemos ainda muito bem o que pode ser.
e sem muita paixão e muito trabalho também ninguém lá chega. conseguir ir além das fronteiras do conhecimento não é fácil, mas a recompensa é enorme. [...]
treinar a curiosidade, a imaginação a paixão é fundamental [...]
e nunca se esqueçam que as certezas são o pior inimigo de qualquer cientista"
(alexandre quintanhila, público, 29 de outubro, p. 13)
 "[...] temos de nos sentir insatisfeitos com o conhecimento atual. sentir profundamente que as explicações que existem para uma determinada pergunta não nos satisfazem. que essas explicações se contradizem e parecem invocar muitas mais perguntas.
sem imaginação também ninguém pode ser cientista [ser pessoa, ser artista]. temos de ter a coragem para pensar em respostas "fora da caixa". imaginar soluções, muitas vezes até mesmo contraintuitivas. não ter medo de mergulhar no escuro, de nos sentirmos confusos e até um pouco perdidos à procura de algo que não sabemos ainda muito bem o que pode ser.
 e sem muita paixão e muito trabalho também ninguém lá chega. conseguir ir além das fronteiras do conhecimento não é fácil, mas a recompensa é enorme. [...]  treinar a curiosidade, a imaginação a paixão é fundamental [...]  e nunca se esqueçam que as certezas são o pior inimigo de qualquer cientista" (Público, 29 de outubro, p. 13)
Esta afirmação é todo um programa que poderá contribuir para este reolhar. Assim, pensar a educação artística como espaço de construção de criatividades e de liberdade e, por mais paradoxal que possa parecer, não serve para nada, como defendo há muito tempo. O não servir para nada significa que a educação artística está para além da  perspectiva funcionalista que domina as diferentes teses sobre a sua importância. O não servir para nada significa que a educação artística é uma maneira de construir a liberdade individual e coletiva fora das múltiplas competividades e empreendedorismos que dominam o discurso e a ação da política e de algum discurso educativo. O não servir para nada significa a assunção de um outro tipo de caminho em que o saber, o conhecimento, em que o processo acerca entendimento do mundo, dos mundos, está para além da superficialidade e da espuma dos dias. E esta sua aparente ambiguidade é o seu ponto forte que importa desenvolver. Esta aparente ambiguidade é uma dimensão essencial da educação artística como educação para a criatividade. Para se ser livre.
Talvez libertando-nos de alguns dos constrangimentos do passado e estando atentos à polifacetada criação artística, nos seus vários domínios, se possa encontrar outros caminhos nesta relação tensa e difícil entre as artes-cultura-educação.


"[...] temos de nos sentir insatisfeitos com o conhecimento atual. sentir profundamente que as explicações que existem para uma determinada pergunta não nos satisfazem. que essas explicações se contradizem e parecem invocar muitas mais perguntas.
sem imaginação também ninguém pode ser cientista [ser pessoa, ser artista]. temos de ter a coragem para pensar em respostas "fora da caixa". imaginar soluções, muitas vezes até mesmo contraintuitivas. não ter medo de mergulhar no escuro, de nos sentirmos confusos e até um pouco perdidos à procura de algo que não sabemos ainda muito bem o que pode ser.
e sem muita paixão e muito trabalho também ninguém lá chega. conseguir ir além das fronteiras do conhecimento não é fácil, mas a recompensa é enorme. [...]
treinar a curiosidade, a imaginação a paixão é fundamental [...]
e nunca se esqueçam que as certezas são o pior inimigo de qualquer cientista"
(alexandre quintanhila, público, 29 de outubro, p. 13)

 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Prémio Jovens Músicos: algumas notas a propósito dos 30 anos

A realização do prémio jovens músicos ao longo dos últimos trinta anos tem-se revelado como um instrumento interessante não só para a carreira de jovens músicos como também para evidenciar o trabalho realizado no ensino especializado de música em Portugal. No ano em que se comemoram os trinta anos três breves notas.

 
1. A 6.º edição do Festival Jovens Músicos

Entre 23 e 25 de Setembro decorreu a 6.º edição do Festival Jovens Músicos. “Esta edição do festival inclui duas novidades, que assinalam e celebram o 30º aniversário do PJM: (a) um concerto com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida por um jovem maestro vencedor do concurso de direção de orquestra, realizado pela primeira vez em 30 anos no âmbito do PJM; (b) a estreia da Orquestra Jovens Músicos, formada exclusivamente por músicos laureados pelo PJM desde a sua primeira edição, em 1987. Neste concerto histórico, o palco Gulbenkian será preenchido por 70 músicos de três gerações diferentes, interpretando obras de Dvorak, Britten, Mário Laginha e uma obra sinfónica em estreia mundial, encomendada à jovem compositora Ângela da Ponte.||O Festival inclui ainda dois concertos com a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Osvaldo Ferreira, e que conta com a participação dos jovens músicos vencedores desta edição.” (cf. http://www.rtp.pt/antena2/premio-jovens-musicos/programas-concurso/6-festival-jovens-musicos-2016-23-a-25-setembro_3452).
Luís Tinoco, que dirige o prémio há nove anos, nas declarações que fez ao Expresso a 17 de Setembro de 2016, afirma que “desde o início que o PJM funcionou como canalizador da prática e do estudo da música, pois as próprias escolas planeiam o trabalho cm os alunos em função da participação no certame” e que ao longo destes 30 anos o PJM evolui quer em termos dos instrumentos representados quer em termos da tipologia musical, por exemplo a inclusão do Jazz e, neste ano, incluiu a direção de orquestra e apresenta a Orquestra Jovens Músicos. Destaca Luís Tinoco que que “na última década fizemos já uma centena de encomendas de peças a solo a jovens compositores que são tocadas no âmbito do concurso” (E – Revista do Expresso, Edição 2290, 17 de Setembro, p. 83).

Das palavras de Luís Tinoco são de realçar, de um modo muito sintético, três aspectos importantes: (a) a continuidade; (b) a incorporação de diferentes tipos de instrumentos e estéticas ao longo dos anos; (b) a relevância da criação de obras originais por criadores portugueses; (b) a relação com as instituições de formação e as transformações no ensino de música em Portugal.
 

2. Alguns relatos da imprensa sobre o prémio entre 1987 e 2002
O “Prémio Jovens Músicos”, organizado pela RDP e com o apoio financeiro de vários tipos de instituições (cf. http://premiojovensmusicos.blogspot.com/), foi organizado pela primeira vez em 1987. A primeira edição do Prémio Jovens Músicos promovido pela Radiodifusão Portuguesa foi atribuído nas modalidades de flauta, violino, viola e piano, em que participaram alunos das escolas de música do continente, Açores e Madeira (Diário de Notícias, Ano 123, n.º 43 240, 9 de Agosto de 1987, p. 16). Neste concurso “existem vários prémios, e o Prémio Maestro Silva Pereira destinado a brindar com uma bolsa (na quantia de 500 mil escudos) o melhor concorrente solista a nível superior. Essa bolsa destina-se ao aperfeiçoamento no estrangeiro (em especial nos curso de Verão). Trata-se de cursos pagos em academias de alta qualidade como a Fundação Hindemith ou a Academia Musical de Bona […] O PJM permite também aos laureados com os “primeiro prémios em cada modalidade a possibilidade de gravações profissionais de dois concertos, aperfeiçoamento no estrangeiro e outras actividades desenvolvidas pelos membros da EMCY (European Music Competitions for Youth) e em concursos internacionais promovidos pela EMCY”. Apesar de se tratar, apenas, de um concurso nacional, o PJM permite uma série de ligações à União Europeia que contribuem para o desenvolvimento técnico e artístico que facilitam o ingresso na via profissional” (Diário de Notícias, Ano 131, n.º 46 211, 30 de Setembro de 1995, p. 27).
A crítica de Nuno Barreiros à 3ª edição deste prémio é elucidativa da perspectiva de determinados meios sociais e culturais em relação a este tipo de acontecimento, não só pelas consequências que pode ter no desenvolvimento futuro da vida musical, nas suas várias componentes, como também a assunção da selectividade competitiva e democrática de “apuramento de valores”.
[…] O futuro da música em Portugal passa também, e necessariamente, pela existência de instrumentistas quer garantam a continuidade de uma prática – aquela que se traduz na actividade de solistas, na constituição de orquestras, bandas filarmónicas e agrupamentos de diversa índole, mais ou menos numerosos, sinfónicos ou de câmara, na formação de professores qualificados. || E a revelação de todos estes músicos pressupõe a selecção competitiva, os estímulos que os concursos representam. Ainda que envolvam, porventura, alguns riscos ou até inconvenientes, próprios a qualquer empreendimento humano, não há dúvida que tais concursos são, hoje em dia, um dos meios correntes e efectivos – e democráticos – de apuramento de valores. A prová-lo, aí se nos deparam !!!, por esse mundo fora, inúmeras realizações do género. ||No nosso país uma das mais recentes iniciativas parece ter pegado de estaca. Reconheçamo-lo sem favor: criou raízes, desenvolveu-se, vai-se alargando e os frutos despontam já de maneira muito apreciável e positiva. (Nuno Barreiros, Diário de Lisboa, Ano 69, n.º 23 041, 16 de Agosto de 1989, pp. 14-15).
Também outro crítico musical do Diário de Lisboa se refere ao Prémio como um elemento estratégico, a par da reestruturação do ensino de música, no desenvolvimento de um “futuro musicalmente mais criativo”.
Esta iniciativa, posta em prática desde o ano passado e inserida, portanto, numa acção continuada e articulada com outras do mesmo género a nível internacional, representa o reencontro da RDP consigo própria, numa das áreas em que a sua imagem tinha ficado bastante desgastada, devido à alienação das orquestras. […] Se a Reforma do Sistema Educativo integrar finalmente a música nos “curricula” gerais e assegurar paralelamente a cobertura do País com Escolas de Música Especializadas, indispensáveis ao desenvolvimento do ensino vocacional, então não pode haver dúvidas quanto ao surto de novas orquestras, designadamente a nível regional. Cada vez há mais autarquias interessadas na promoção diversificada da cultura musical (tanto tradicional como “erudita”). Com a regionalização, os meios financeiros e organizativos locais para a cultura terão uma ordem de grandeza que permitirá suportar e aproveitar mais economicamente organismos dessa natureza. O Prémio Jovens Músicos da RDP aponta, enfim, para um futuro musicalmente mais criativo” (Mário Vieira de Carvalho, Diário de Lisboa, Ano 68, n.º 22 675, 27 de Maio de 1988, Cartaz DL, p.12).
Outro tipo de recepções que este prémio foi tendo na imprensa escrita revela dois tipos de características. Por um lado, uma das características reside no facto de que os premiados podem tocar com “verdadeiras orquestras sinfónicas”: “esta é a uma ocasião que constitui um outro prémio para os “aprendizes musicais”: o facto de serem acompanhados por uma verdadeira orquestra profissional e sinfónica […] É o concurso português mais qualificado. E dizem ser o mais apetecido pelos jovens estudantes das artes e técnicas musicais nacionais” (Diário de Notícias, Ano 132, n.º 46 578, 1 de Outubro de 1996, p. 40). Por outro, como salienta João Pedro Araújo da Silva, vencedor do prémio modalidade piano em 1990, o prémio “constitui um grande incentivo”, permitindo-lhe “também um contacto com um mundo da música diferente daquele a que […] estava habituado nas Caldas da Saúde […]” (Diário de Notícias, Ano 126, n.º 44 399, 14 de Outubro de 1990, p.27). Um outro vencedor da 16ª edição deste prémio refere que “este concurso é muito importante, desde logo por ser o único para jovens em Portugal. Depois, claro, há o instrumento que ganhamos e a bolsa de estudo atribuído pela Gulbenkian, ao que se junta o facto de irmos tocar com a Orquestra do Porto. Tudo isto são coisas boas que ajudam um músico a acreditar no seu futuro” (Diário de Notícias, Ano 138, n.º 48 768, 1 de Outubro de 2002, p.33).
No entanto, apesar de se “acreditar no futuro”, questiona-se a integração profissional destes jovens, tendo em conta a situação da vida musical portuguesa.
Nas atribuladas circunstâncias da economia musical portuguesa (não a de importação; não por falta de projectos), é salutar a esperança que desperta ouvirmos alguns dos laureados pelo júri internacional da sexta edição do concurso para os Prémios Jovens Músicos [..] A assistência contou com inúmeras autoridades oficiais e ouviu as excelentes palavras do presidente do conselho  administrativo da RTP que saudavelmente, esperançoso, não hesitou em salientar a miserável situação do sinfonismo em Portugal. Basta dizer que a orquestra que ouvimos, com 41 instrumentistas, tem mais de 60 por cento de artistas estrangeiros, não contando com o seu maestro titular, Jan Lathan-Koening.||Que faz correr os jovens músicos portugueses perante a situação musical do seu país? - perguntou o presidente da RTP. A resposta foi: a esperança e a persistência que fez com que a jovem violoncelista Daniela Brito (de 18 anos) fosse obtendo sucessivos prémios desde 1988 e fosse seleccionada para a Orquestra Europeia de Jovens Músicos. || […] Deixemo-nos porém de sebastianismos musicais. Não é qualquer D. Sebastião que vem salvar a música em Portugal. Salvá-la-á, sim, uma juventude esclarecida que expulse a incompetência dos responsáveis pela situação. Claro que temos gente capaz em idade madura; o que parece é que não tem audiência, ou que são surdos os que a deviam ouvir” (José Blanc de Portugal, Diário de Notícias, Ano 128, n.º 45 074, 19 de Agosto de 1992, p. 27).
 
As diferentes reacções publicadas na imprensa entre 1987 e 2002, e atendendo aos contextos políticos e culturais em que foram proferidas, remetem não só para a relevância deste prémio no contexto da sociedade portuguesa, em termos de formação ministrada e em termos das possibilidades que se abrem no potenciar as carreiras dos jovens músicos, como também levantam questões e interrogações acerca da vida musical e das políticas públicas subjacentes.
 
3. Do ensino especializado de música, da vida musical e das políticas: continuidades e descontinuidades
Estes trinta anos do Prémio Jovens Músicos são reveladores das diferentes transformações existentes no ensino especializado de música, na vida musical e nas políticas públicas para os sectores da educação e da cultura.

 
Em primeiro lugar pelo facto das mudanças operadas neste subsistema de ensino, quer no que diz respeito à abrangência territorial, apesar de diferentes tipos de desequilíbrios, quer pela formação que ao longo dos anos tem vindo a ser ministrada e que se tem revelado, apesar de um conjunto de problemáticas ainda existentes – que abordarei num futuro texto, de um grande dinamismo e de qualidade. Pelo alargamento das estéticas, das técnicas, pelo alargamento dos estudantes, pelo impulso gigante (comparando com os anos 80 e a primeira década de 90, dada à música de conjunto (quer em formações de câmara quer em diferentes projectos de natureza orquestral). Por outro lado as sucessivas gerações de músicos e professores que foram formados pelas escolas portuguesas e que, em muitos casos, continuando as suas formações no estrangeiro, contribuíram decididamente para potenciar o incremento da qualidade formativa que hoje se verifica quer no ensino básico e secundário de música, no ensino profissional, quer no ensino superior politécnico e universitário.

 
Em segundo lugar se a vida musical na sociedade portuguesa, em particular no que se refere a algumas tipologias e estéticas musicais, apresenta ainda um conjunto alargado de problemas, mas não deixa de ser significativo verificar um incremento substantivo das práticas artísticas nos diferentes contextos, quer no continente quer nas ilhas. Apesar de não ser noticiado nos principais órgão de comunicação social, o incremento de diferentes tipos de concertos organizados pelas escolas de música e por diferentes tipos de associações (e aqui o Facbook e outras redes sociais, são instrumentos muito importantes de divulgação) são reveladores de uma formação artístico-musical que felizmente, deixou de ficar encerrada nas quatro paredes das escolas constituindo-se como centros de cultura nos territórios onde estão situadas.

 
Em terceiro lugar, e o mais problemático de tudo: as políticas públicas. Apesar de todo o dinamismo, do trabalho e do esforço das escolas, dos professores, dos estudantes e das famílias as políticas públicas, pelo menos as que emanam do Estado e dos órgãos de administração, parecem ter para do no tempo e têm sido incapazes de dar corpo a três aspectos que me parecem essenciais: (a) a importância da relação entre a educação e a cultura (com todas as implicações que isto contém); (b) a completa desarticulação entre as dimensões das estruturas de produção artística, as estruturas de formação e as diferentes formas de difusão e de divulgação (em que os auditórios e salas de espectáculos municipais podem e devem representar um pólo importante); (c) o estabelecimento de condições jurídicas e políticas para o desenvolvimento de carreiras artísticas que atendam às características da profissionalidade destas carreiras e contribuam para que estas características não sejam um fator que dificulte ainda mais a vida dos criadores, intérpretes e professores.


segunda-feira, 23 de maio de 2016

O Ensino especializado de música entre diferentes mundos, complexidades e desafios


Introdução[1]
O ensino especializado de música, é um campo compósito, complexo e reticular situado no cruzamento entre os mundos da educação e da formação e os mundos das artes e da cultura. Esta dupla referencialidade, abrange modalidades, territórios e finalidades diferenciadas e fragmentadas, bem como os tipos de saberes que aborda, mais técnicos, criativos ou investigativos. Neste campo compósito a educação e formação não se joga apenas nos espaços e nos tempos da escola mas em territórios multipolares em que interagem uma diversidade de atores públicos, privados e do terceiro sector (nacionais, locais e internacionais) em redes diferenciadas de sentidos e onde se confrontam e complementam olhares, saberes e experiências.
Por outro lado, as transformações operadas no campo criativo, investigativo e tecnológico, social e cultural, assim como nos modos como os públicos se relacionam com as artes e a cultura, interpelam as políticas públicas no ensino especializada de música num triplo e simultâneo sentido de intervenção: curricular, organizacional e profissional. Interpelação e intervenção em que a par do desenvolvimento das ferramentas necessárias à apropriação, devidamente contextualizada, dos códigos e convenções característicos de cada área, época ou tipologia musical, das técnicas de um determinado instrumento, da criação e interpretação de uma obra musical, com diferentes tipos de configurações (solística, de pequenos e/ou de grandes grupos), se promovam modos organizacionais e perspectivas de desenvolvimento de um profissionalidade de músico que articule os mundos das artes, educação e cultura fomentando a criatividade, a experimentação e a inovação de procedimentos educativo-artísticos e de intervenção cultural comunitária, atendendo a que, no mercado de trabalho dos bens artísticos e culturais, dos bens simbólicos, nem sempre existe uma relação directa entre o “sucesso académico” e o desenvolvimento de uma carreira artística. Os caminhos para que um músico desenvolva uma carreira musical são variados e, muitas vezes, imprevisíveis, “não existindo um percurso claro e linear para se tornar músico” (Coulson, 2010: 259).
Este tipo de problemáticas e características configuram um campo de “singularidades diferentemente articuladas” (Vasconcelos, 2011) que tem subjacente um conjunto de complexidades que percorrem transversalmente mundos e geografias diferenciadas, os saberes e as políticas em presença, colocando ao ensino especializado de música um conjunto de desafios para lidar com a mudança e que procurem contrariar as tendências dominantes assentes na funcionalização e na mercadorização da educação artístico-musical.
Neste contexto, esta reflexão está organizada em três pontos. No primeiro irei apresentar algumas considerações acerca dos saberes e das aprendizagens tendo presente as complexidades dos mundos da música e do seu ensino; no segundo, centrar-me-ei em algumas problemáticas do trabalho artístico e da formação de músicos e, no terceiro, abordarei alguns desafios em torno de quatro cês: conhecimento, criatividade, cosmopolitismo e complementaridade. Por último, umas breves considerações finais.
1. Dos saberes e das aprendizagens: as complexidades dos mundos da música e do seu ensino
Os mundos da música, parafraseando Howard Becker (1984), são constituídos por conjuntos alargados de redes de indivíduos, instituições, acções e sentidos cuja actividade é desenvolvida através de coordenações variadas, multi-situadas, e por vezes conflituais, que contribuem para a criação, produção e difusão de determinado tipo de trabalho artístico-musical.
Por outro lado, a contemporaneidade formativa, artística e cultural é caracterizada por um conjunto alargado de factores que passam pela individualização, diferenciação e pluralismo; pela globalização de ideias e procedimentos; pela multiplicidade de práticas, muitas vezes afastadas das suas tradições históricas; pela multi-centralidade da vida cultural, artística e formativa; por uma formação policentrada que não se exerce apenas no contexto escolar e académico, pela mercadorização da música e do seu ensino. Conjunto este em que as ideias acerca da música têm consequências diversas nos modos de organizar os sons, as formações e os comportamentos que lhes estão associados: das culturas de tradição oral às culturas de tradição escrita, das culturas urbanas e suburbanas as culturas mais eruditas. As ideias acerca da música determinam quais são os contextos para a música e como esta irá soar (Nettl, 2001:8).
Deste modo, as polifonias existentes no ensino de música, nas culturas, práticas e consumos artísticos das sociedades contemporâneas e a estratificação dos estilos musicais (Martin, 1996), compreendem problemáticas estéticas (associadas a diferentes estilos e tipologias artísticas), geográficas (englobando várias partes do mundo), histórico-sociais, (englobando diferentes épocas, etnias, contextos) e económico-políticas. Cada uma destas polifonias tem os seus valores, hierarquias, códigos, convenções, usos, funções, modos de ver e de fazer, contribuindo deste modo para o aumento da complexidade e dos hibridismos político-artísticos e para os questionamentos entre a construção e a reprodução social e formativa das hierarquias artísticas (Santos, 2010).
Os referentes que hoje temos em relação a este tipo de ensino artístico, de escolas e dos seus profissionais são histórica e culturalmente construídas, muitas vezes pouco sustentadas e questionadas “porque aparentemente são muito evidentes” (Nóvoa, 2005), assentes numa determinada representação do que é a arte, os artistas, a formação confrontada entre paradigmas de tradição clássico-romântica, paradigmas funcionalistas e a pressão da globalização, paradigmas mais contemporâneos (Vasconcelos, 2002, 2004ª, 2013). As políticas neoliberais e os cânones tradicionais não valorizam nem as escolas nem este tipo de ensino como "territórios simbólicos e ambíguos”, atendendo a que os processos de educação e de formação artístico-musical são, pela sua natureza paradoxais (Vasconcelos& Queirós, 2013).
Com efeito, pode-se aprender as técnicas, a história, os reportórios, desenvolver a criatividade mas dificilmente se formam artistas (Waterman, 1976). Alguém singular, que dominando as técnicas, os reportórios, a história da música e a história social e cultural, consegue construir uma visão particular sobre o mundo e as obras de arte que interpreta, cria ou recria. Sob este ponto de vista, o ensino especializado da música, só pode criar condições plurais que potenciem a formação de artistas através do fomento de uma cultura humanista, do confronto com diferentes mundos e realidades artísticas e outras, no alargamento dos quadros de referência.
Por outro lado, as relações complexas entre as exigências “universais” da educação e as experiências singulares da arte, entre a regra e a transgressão, entre o centro e a margem, contribuem para estas ambiguidades naquilo que Beaulieu (1993) designou por “disciplinas indisciplinadas”. E nestas “disciplinas indisciplinadas” existe um outro factor de grande ambiguidade e importância: o “the wow factor” (Bamford,2006). Isto é, o encantamento e os resultados imprevistos que são difíceis de medir mas que possuem um enorme impacto nos estudantes, professores e comunidades transformando-se também numa força que une os diferentes actores mesmo quando existem situações de grandes constrangimentos estruturais e políticos. Esta mesma perspectiva é partilhada por Durrant (2003), quando refere que a qualidade da experienciação musical é “poderosa” e nem sempre pode ser planeada em termos de resultados finais ou medida em testes e exames como acontece noutro tipo de contextos educacionais e formativos dado que a natureza do acto criativo reside na divergência e no “encantamento inexplicável” (p. 82).
Neste contexto, conceptualizar o ensino especializado de música como território de fronteira é também conceptualizar a pedagogia artística e musical como uma pedagogia do imprevisível e criativa. E esta formação de fronteira inscreve-se numa dinâmica dialéctica que pode ser caracterizada por se situar:
  • Entre subjectividades educativas e artísticas diferenciadas. As crianças, os jovens e os adultos movem-se em espaços formais e informais, possuidores de memórias e sentidos consoante as comunidades de pertença e onde as práticas individuais se cruzam com os diferentes tipos de racionalidades, convenções, formas de sociabilidade e identitárias. Por outro lado, um dos aspectos essenciais da formação artística é o contributo para a construção das singularidades e da autonomia que possibilitem a criação de novas racionalidades técnicas, códigos e convenções, de novas racionalidades estéticas e interpretativas.
  • Entre diferentes saberes, técnicas, convenções e os indivíduos. As formas diferenciadas de expressão, criação e realização artístico-musical têm subjacente um conjunto de convenções de carácter múltiplo, numa dinâmica entre permanência e mudança, uma dialéctica entre o “território de formação” e o “território do indivíduo”. O modo como estas pontes se estabelecem é um dos aspectos determinantes de como a criança, o jovem e o adulto apropria os saberes artísticos, constroem as suas identidades e se projectam no futuro.
  • Entre a formação, a experimentação, a fruição e a produção. No âmbito das artes performativas, a aprendizagem só adquire sentido num contexto de uma apresentação prática de diferentes tipos de realizações artísticas, que têm subjacentes modos diferenciados de comunicabilidade e públicos diversos onde confluem múltiplas estratégias que influenciam decisivamente o jogo da oferta e da procura, uma vez que diferem em termos de interesse e da ligação a uma forma e género artístico particular,
  • Entre a tradição e a inovação. A música como construção social e humana, como cultura e forma de conhecimento do mundo (Marti,2000) é enformada por diferentes contextos socializadores de determinados procedimentos e técnicas de acordo com os universos de referência. Mudando estes universos socioculturais, alteram-se as significações e culturas artísticas. As memórias e as convenções podem ser utilizadas também para superar o dilema entre o conhecido e o desconhecido, entre a reprodução de modelos existentes ou a criação de novos numa dialéctica entre herança e inovação, estabilidade e mudança, algumas das faces caracterizadoras das complexidades, das precariedades e das forças deste tipo de formação artístico-musical.
Desta conceptualização, emerge um campo não só de singularidades como também num campo intersectorial o que, do ponto de vista das políticas e dos modelos curriculares, importa interrogar as diferentes possibilidades e características deste tipo de formação de modo a que o estudante seja considerado também como um actor político e não um consumidor, deixando de o encarar como “ser futuro” mas “ser actual” (Canário, 2008; Small, 1980) para que as suas competências, adquiridas em diferentes contextos formais e não formais, possam ser reconhecidas e valorizadas. A qualificação decorre da apropriação e do desenvolvimento de competências multifacetadas e não é um desígnio a priori da apropriação de instrumentos de pensamento e de cultura.
Ora, esta perspectiva de olhar para o ensino especializado de música inscreve-se no que Wilson (2002) designa por “estrutura rizomática”, por oposição a uma “estrutura em árvore”. Como refere este autor o pensamento dominante de diferentes actores (intelectuais, burocratas, professores e investigadores) inscreve-se numa perspectiva de segmentação da realidade em que se classificam, planificam e programam as escolas e as instituições artísticas e culturais no sentido de atingir determinados objectivos mensuráveis e que, conceptualizar as artes e a cultura, assim como a formação artística, como “estruturas em árvore” quando elas são rizomáticas e anti-estruturais, caracterizam a uma visão redutora dos fenómenos complexos contribuindo para o desenvolvimento de políticas falhadas (p. 211).
Neste contexto, torna-se pertinente, por um lado, pensar e reolhar para a necessidade de encontrarem modalidades que procurem atenuar, senão mesmo neutralizar, a perca do sentido de unidade, ou pelo menos de convergência, das diversas formas de conhecimento e actividade humanas, contribuindo para alterar o empobrecimento cultural daí decorrente. Por outro, rearticular interactivamente o Ensino de Música requer não só transpor a inadequação entre os saberes fragmentados e compartimentados entre disciplinas e áreas como atender às realidades, mundos e problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais e transnacionais. Como refere Morin (2000), a hiperespecialização impede de ver o global (que ela fragmenta em parcelas), bem como o essencial (que ela dilui). Retalhando as disciplinas e saberes torna impossível apreender "o que e tecido junto", isto e, o complexo, segundo o sentido original do termo.
Assim importa avançar para um trabalho de construção de saberes e de conhecimento hesitante "não em linha recta mas numa espécie de linha exaltada, que entusiasma, que vai atrás de uma certa intensidade sentida; avanço que já não têm um trajecto definido mais um trajecto pressentido, trajecto que é constantemente posto em causa; quem avança hesita porque não quer saber o sítio para onde vai. Se soubesse já, para que caminharia ele? Que pode ainda descobrir quem conhece já o destino? Hesitar é um efeito da acção de descobrir; só não hesita quem já descobriu, quem já colocou um ponto final no seu percurso de investigação" (Tavares, 2013, pp. 26-27). Conhecimento hesitante de modo a multiplicar “as analogias, as explicações, as ligações; multiplicar as possibilidades de pensar’’ (Idem: 67)
 
2. Do trabalho artístico e da formação de músicos: das multiactividades e das múltiplas competências
O conceito de artista, sendo um conceito social e culturalmente construído, é caracterizado por uma ambiguidade com contornos diferenciados que decorrem das transformações sócio-históricas, políticas, sociais e culturais relacionadas com a criação artística (Le Coq, 2002, Nicolas-Le Strat, 1998;. Na definição social do ser-se artista, a “ideologia carismática” do artista não reconhece “outro tipo de tribunal que a sua consciência”, o que se acomoda mal tanto com “a racionalidade burocrática”. A identidade profissional do artista não se deixa enclausurar por “nenhuma definição jurídica dura”, existindo quatro grandes critérios que permitem a definição deste grupo social: independência financeira (viver da profissão); auto-definição (dizer-se artista); competência específica (ser diplomado por uma escola artística); reconhecimento pelos pares (Moulin, 1997:249).
Neste enquadramento, a conceptualização das profissões artísticas é também uma questão complexa (Menger, 2005) em virtude da coexistência de “múltiplos critérios, muitas vezes dificilmente compatíveis. “Os artistas conservam a sua identidade social específica à força de compromissos pessoais, reforçados pela aprovação e reconhecimento de outros artistas que povoam uma ou várias das múltiplas comunidades informais e vibrantes que abrangem a totalidade do mundo da arte. Ou seja, a arte não é nem trabalho, nem actividade lúdica. É um híbrido anormal dos dois” (Freidson, 1994:134).
Este carácter hibrido do trabalho artístico é feito de desafios e de invenções, mas também de apoios em soluções já experimentadas anteriormente num contexto de multiplicidade de estilos, numa oscilação permanente dos actores entre o princípio de rotinização e o princípio carismático. A alteração nos modelos de produção e de organização económica do trabalho no mundo artístico (Martinho, 2010) contribuíram para a criação de um contexto onde se cruzam diferentes modos de ser-se artista – modos de ser que se podem situar num eixo em que, num pólo, se encontra a segurança institucional e a continuidade, e, noutro pólo, um contexto de incertezas, em que os artistas procuram romper a compartimentação da vida cultural regida por instituições, estruturas financeiras, públicos ortodoxos e estilos convencionais (Coulangeon, 2000).
Este tipo de características – relações efémeras, a diversificação e a intermitência dos ambientes e dos projectos de trabalho – exigem ao artista uma “capacidade de adaptação elevada, superior à que requer normalmente o emprego numa organização permanente e estável, onde a definição das tarefas é melhor especificada” (Menger, 1994: 8). Cada experiência de trabalho é diferenciada, cada obra e/ou espectáculo é constituído por um conjunto de singularidades e as redes de colaboração são modificáveis, o que contribui para que a avaliação das competências dos artistas por si e pelos outros possa ser interminável, atendendo à variabilidade do trabalho, aos modos de produção e de realização artística, aos modos de recepção e de valoração social e cultural do trabalho.
Neste jogo de complexidades, a reputação desempenha um papel relevante, reputação essa que também se caracteriza por ser um fenómeno complexo que advém de um conjunto de factores que passam pela escola de formação, pelas diferentes redes de mediação e pelas características da obra e dos artistas, bem como pelos fenómenos relacionados com a massificação da cultura e do marketing correspondente, o que configura um conjunto de desafios e de riscos: risco de criatividade, intermitência da actividade, remunerada e flutuação dos rendimentos, importância da investigação e desenvolvimento não remunerado, produção prototípica, acaso do sucesso.
Perante este quadro importa interrogar e problematizar, ainda que de um modo sucinto, a formação de músicos no século XXI.
Bennett (2008) defende que os músicos do século XXI, no âmbito da designada música erudita ocidental, necessitam de uma base mais alargada de formação envolvendo competências e conhecimentos de modo a poderem desempenhar uma carreira como praticantes culturais, defendendo que o músico não pode definir-se simplesmente como performer, mas sim como um profissional multi-situado e com múltiplas competências que permitam o desenvolvimento do trabalho e de uma carreira em mais do que um campo especializado.
Existe uma necessidade urgente dos conservatórios mudarem o seu modo tradicional centrado na função exclusiva de formar intérpretes e desenvolverem um currículo mais realista e flexível de modo a possibilitar uma abrangência maior das carreiras dos músicos instrumentistas. Isto porque, como defende a autora, “para tornar as suas carreiras mais sustentáveis, os músicos têm de conhecer e enfrentar uma sociedade contemporânea com mudanças cada vez mais complexas e competitivas. Os músicos não são apenas intérpretes mas alguém que trabalha no interior da profissão de músico” e isto requer músicos que consigam quebrar barreiras a nível das hierarquias e das atitudes. O sucesso deve basear-se na satisfação com a carreira pessoal mais do que uma hierarquia pré-concebida de papéis” (Idem,p. xiii).
Neste contexto, os músicos intérpretes têm de reconciliar as diferenças entre as exigências da “perfeição” técnica e estilística na interpretação musical e a procura de uma voz, da sua voz, e da criatividade. Exigências que irão encontrar no âmbito do exercício profissional. Deste modo o pensar e o formar músicos instrumentistas para estes contextos societais paradoxais e ambíguas, para estes contextos societais, económicos e cultuais em mudança, significa pensar e construir um currículo e uma acção formativo-artística que promovam experiências de aprendizagem que contribuam para a “construção de multi-competências”, de abertura aos diferentes mundos. Como escreveu Madalena Perdigão (1979), “Exige-se ao artista de hoje, para além do domínio das técnicas do seu campo específico, uma compreensão profunda dos problemas inerentes à sua profissão e uma abertura de espírito relativamente aos outros campos de conhecimento e aos restantes campos de actividade”.
Particularidades que implicam (re)pensar politicamente a formação artístico-musical atendendo ao trabalho potencial a desenvolver (criação, interpretação, investigação, docência, produção, gestão das artes, agentes, tecnologias, desenvolvimento de projectos, por exemplo) e num quadro de multiactividade, de intermutabilidade bem como de renovação de espaços e de territórios de intervenção educativo-artística, entre diferentes processos através dos quais práticas diferentemente ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias (Santos, 2002).
3. Os desafios de viver em tempos de mudança: lidar com as incertezas
Tendo em consideração o exposto anteriormente, sintetizo os desafios que se colocam ao ensino especializado de música em torno de um conjunto de 4 cês: conhecimento, criatividade, cosmopolitismo, complementaridade.
Conhecimento: compreender, intervir e lidar com as complexidades
O conhecimento afigura-se como uma das dimensões centrais na vida das sociedades contemporâneas. Conhecimento que, como sabemos, difere de acumulação de informação, embora sem ela não o conhecimento não exista. Pode advir de múltiplos modos (mais formais e informais) e constituir-se em diferentes modalidades: do conhecimento científico ao conhecimento artístico, do conhecimento filosófico ao conhecimento experiencial.
Neste contexto, importa chamar a atenção para o papel da investigação e da pesquisa na compreensão das diferentes realidades, na produção artística e na produção do conhecimento. Hánnula et al. (2005) referem que "[A  investigação artística]  está relacionada com os processos e dimensões de auto-reflexão e autocrítica de um indivíduo envolvido na construção sentidos no âmbito da arte contemporânea, e de uma forma em que ele  comunica de onde vem, onde ele está nesse preciso momento, e para onde quer ir" (p.10). Isto pressupõe um estádio do "ainda não saber muito bem o que fazer'' e normalmente desordenado em que o artista-investigador "não têm uma direcção clara sobre o que faz, seja incapaz de articular o processo de um modo claro e quando o estágio inicial termina o pensamento e o processo pode ser recapitulado e comunicado.
Neste “estar preparado para perceber o inesperado” o “conhecimento em arte” é uma dimensão relevante. Como refere Efva Liljá (2012), “o conhecimento em arte ("knowledge in art'') está relacionado com o que eu preciso para criar alguma coisa, para expressar e comunicar as minhas ideias no mundo exterior. E através deste conhecimento que sou capaz de apreciar a arte, e melhorar as minhas competências para comunicar e olhar para o mundo de um outro modo, de uma outra perspectiva fora do que é o senso comum existente nos quotidianos […]. Uma reflexão consciente e uma visualização dos sentidos num trabalho artístico que é eminentemente subjectivo no plano da sua recepção e interpretação".
Criatividade: potenciar os imaginários
A criatividade pode-se caracterizar por ser um processo complexo envolvendo o processamento de informações e saberes diferenciados, ideias, acções, sentidos e estruturas e modos de fazer presentes num determinado momento e espaço conceptual, social e cultural de que podem resultar múltiplas possibilidades de articulações significativas (Odena, 2012; Thomas & Chan, 2013). As complexidades existentes neste processo, a mobilização e manipulação dos saberes, enquadram-se num contexto de um trabalho oficinal (mesmo utilizando aparatos tecnológicos também eles complexos).
O processo criativo começa, de um modo geral, com o objectivo da resolução de um determinado problema, exterior ou interior ao individuo ou sugerido pelo estado da arte do domínio em que se inscreve, numa dinâmica entre a criação de algo de novo e/ou reconfigurado, de descoberta e de bricolage (Csikszentmihalyi,1996). Contudo, “quando falamos de imaginação estamos também no campo da contestação […] das fixações de um aqui e de um ali, de um interior e de um exterior” numa geometria plural e “espantosa (que espanta, que surpreende)” (Tavares,2013:32-33) aberta ao acaso e ao desconhecido.
Neste processo importa estar-se atento e potenciar “um quadro alargado de traços de personalidade” que incluem “independência de julgamento, auto-confiança, atração pela complexidade, orientação estética, tolerância para lidar com a ambiguidade, abertura para a experimentação e para lidar com o risco” (Baer & Kaufman, 2006:18). Consequentemente o desenvolvimento de um trabalho formativo, passa por um conjunto alargado e interdependente de situações e de “encontros estratégicos” que “compreendem uma colisão criativa do individual, ideias e acções” (Burnard, 2012).
            Encontro estratégico e interactivo que implica atender à perspectiva poliédrica do processo, e que, sinteticamente, envolve: (a) “o potenciar o imaginário”, revestindo-se de múltiplas formas e modelagens musicais e extramusicais, significa “o motor do início de algo, o momento de aparente imobilidade onde, interiormente, […] se constroem ideias: umas combatendo outras” (Tavares, 2013:384); (b) a “exploração e experimentação” em que de modos diferenciados se vão procurando e adequando às ideias, processos, objectos, técnicas. (c) o “passar do imaginado ao fazer o imaginado”, criando “novas coisas”, novas ideias ou ideias reconfiguradas no mundo, multiplicando “as possibilidades de verdade, as analogias, as explicações, as ligações” (Idem:385).
Cosmopolitismo: convivialidade entre diferentes
Como tenho vindo a defender, a actividade artística “não é una; ela não é a actividade de um artista. Ela é sempre plural. E por detrás dessa pluralidade se descobre a diversidade, as disciplinas, as notoriedades, as sensibilidades, os estatutos […]”. Mesmo que “a actividade seja única – a unicidade de uma criação ou de um espectáculo – isso não a impede de existir como multiplicidade, de associar competências, de misturar os géneros, de desconstruir as suas próprias referências, de organizar os estilos, de transgredir o seu espaço. A sua multiplicidade […] informa-nos acerca do seu mundo de acção (o rizoma ou a rede), do seu desempenho e da sua produtividade (a desmultiplicação)” (Nicolas-Le Strat, 2002: 38-39).
Destas interdependências, singularidades e proliferação de sentidos e de mundos, muitas vezes distantes e conflituais, emerge a necessidade de encontrar formulações que permitam a convivialidade entre referências múltiplas, entre culturas que se interpenetram, o que tem subjacente uma perspectiva cosmopolita de olhar para o trabalho formativo e para as carreiras artísticas. A convivialidade entre diferentes “territórios de fronteira” e zonas de contacto, entre diferentes tipologias e géneros artísticos, diferentes saberes técnicos, estéticos e culturais, diferentes saberes experienciais e entre modalidades formais e informais (Green, 2002; 2008).
Esta convivialidade implica uma “imaginação dialógica”, de que fala Ulrich Beck (2002). Diz este autor que a “imaginação dialógica” corresponde “à coexistência de modos de vida rivais na experiência individual, o que torna inevitável a comparação, a reflexão, a crítica, a compreensão e a combinação de certezas contraditórias”. Enquanto “a perspectiva nacional é uma imaginação monológica, que exclui a alteridade e o outro”, a perspectiva cosmopolita é “uma imaginação alternativa, a imaginação de modos de vida e racionalidades alternativas que incluem a alteridade do ‘outro’ (p. 18).
Ora esta visão do cosmopolitismo é perspectivada, a partir do local, naquilo que designo por “localismo cosmopolita” que contrarie a desterritorialização do trabalho e contribua para a afirmação das singularidades. E nestes “localismos cosmopolitas” as comunidades apresentam-se como um elemento determinante no desenvolvimento dos projectos colectivos e individuais. Como salienta John Holden, os projectos de natureza mais comunitária estão também no fortalecimento da consciência de que se pertence à comunidade. Diz este autor que “o que cria um grupo é a cultura e as formas de expressão partilhadas, os lugares de encontro, os lugares onde estamos habituados a ir – tanto em teatros e concertos, como nas ruas e bares” (Público, 15 Fevereiro 2015, p. 33).
Neste contexto, ao invés de uma estrutura verticalizada de se pensar e organizar o ensino especializado, o trabalho artístico-pedagógico e a dinamização artística e cultural das intervenções, a perspectiva cosmopolita pensa-se numa organização e estrutura mais horizontal em que as particularidades de cada mundo em presença são tidas em consideração, em que a alteridade, ou seja, o tratamento do outro é feito não como um adversário mas como um parceiro de uma comunidade de interesses, de uma comunidade de aprendizagens. O que nos e estranho, o que é “estrangeiro” não é vivido como uma ameaça mas como um enriquecimento, ultrapassando as antigas dicotomias entre o local e o global, o nacional e o transnacional, os profissionais e os amadores, na mobilização de um conjunto de valores de assunção das diferenças como forma de construção de igualdades.
Complementaridade: entre as escolas, as formações, os artistas e as instituições culturais
Existe uma abundante expertise, competências e boas práticas musicais em diferentes tipos de contextos quer no que se refere aos artistas individualmente considerados (intérpretes, compositores, por exemplo) quer em diferentes tipos de organizações artísticas e em diferentes níveis de escolas, que nem sempre é potenciada e articulada.
Ora, uma das questões centrais para o desenvolvimento da educação artístico-musical é conceber contextos educativos e formativos, com as correspondentes metodologias e estratégias, que possibilitem a conexão entre a escola, a casa e a comunidade, de modo a desenvolver atitudes positivas para as aprendizagens e para fazer música em conjunto, bem como contribuir para a construção de pontes entre as actividades musicais, os recursos e os saberes as comunidades.
Uma das dimensões desta complementaridade está relacionada com os “artistas na escola”. Um dos argumentos principais que defendem o papel dos artistas nas escolas e na educação sugere que “os artistas são os principais defensores da autêntica experiência de criar, fazer e experimentar. O que é necessário é uma mudança fundamental na compreensão do que os artistas podem trazer para a educação – bem como dos benefícios que também eles retiram desse papel. […]. Ao convidarem-se artistas para desempenharem um papel num ambiente escolar, consegue-se realizar os objectivos das políticas, uma vez que as parcerias entre artistas e educadores trazem para a sala de aula especialidades diferentes mas complementares” (Bennington College, 2002, p. 8).
Contudo, o trabalho artístico-pedagógico que deverá a continuar a ser feito pelos professores não deverá ser confundido com o trabalho desenvolvido pelos artistas. Como refere Marland-Militello (2005) “convém distinguir o trabalho pedagógico do professor do trabalho realizado pelo artista ou interveniente exterior. A perpetuação, mas também o desenvolvimento das cooperações passam por um incremento da duração média das intervenções, pelo desenvolvimento da disponibilização de professores nas estruturas culturais, pelo reforço das estruturas educativas nas instituições culturais, por um maior esclarecimento dos objectivos atribuídos às instituições e pela sistematização do auxílio à realização de projectos por parte dos artistas” (p. 73).
Uma outra dimensão da complementaridade e dos processos colaborativos centra-se num trabalho de resistência a favor de modalidades que contrariem as tendências dominantes assentes em lógicas mercantilizadas de conceber e organizar a formação e as artes e que reforce as possibilidades de partilha em que se retome a ideia renascentista de trabalho em grupo. Como refere criticamente Maria João Pires ao jornal Vanguardia de 17 fevereiro de 2015 a propósito do seu Projecto Partitura: “É como uma pós-graduação para encarar a vida profissional. Pretendo que enfrentem os problemas do mundo de hoje de uma maneira correcta, porque temos muitos músicos talentosos por todo o mundo e se vêm obcecados a seguir os mesmos canais para conseguir trabalho: concursos para ser considerado “o melhor” e lutar pela fama de maneira muito solitária. Claro que é importante apresentar-se ante o público, mas o mais importante é partilhar algo entre gerações, e essa transmissão de conhecimentos há desaparecido, já não há professores com essa capacidade de ensinar como tocar. Já não partilham, só vendem um produto comercial. O modelo renascentista do trabalho em grupo é importante, uma experiência partilhada, orgânica. Não só estás a aproveitar-te do presente mas também projectando-te. Se não projectas nada sucede”
4. Considerações finais
Num tempo em que as trocas culturais se multiplicam em confronto e em convergência (Vasconcelos, 2004b), em que a criação artística quebra fronteiras estéticas e geográficas, onde as práticas individuais reinventam modos diferenciados de relacionamento com os objectos simbólicos e com os territórios do imaginário, a escola e os diferentes actores interrogam os deveres, responsabilidades e estratégias em matéria da educação artístico-musical. Estas reconfigurações reivindicam da acção pública um cruzamento de desafios nacionais, tradições, patrimónios, identidades, mas também problemáticas transversais decorrentes de um mundo globalizado e dos processos de globalização cultural.
Ora as “singularidades diferentemente articuladas”, que caracterizam o ensino especializado de música e jogo de complexidades inerentes, têm subjacente um pensar político e um conjunto de políticas também alicerçadas em redes de geometrias variáveis. Políticas com diferentes tipos de configurações de interdependências, entre (a) as escolas, o estado e a administração; (b) instituições formativas e formações; (c) formações e políticas culturais e musicais; (d) profissionalidades docentes diferenciadas; (e) o local e o transnacional; (f) o carácter compósito e intermitente do trabalho artístico (Vasconcelos, 2011).
Políticas que dêem corpo às práticas inovadores existentes no terreno e que contribuam para a construção de uma outra ideia de escola, de formação de vivências artísticas uma vez que “a escola que procura a homogeneidade, que se rege por metas iguais para todos os alunos, que ostraciza a diferença não é certamente o melhor começo de vida para pessoa que vão ter de participar em sociedades conflituais e que exigem negociação; não vai ser, de certo, a melhor escola para cultivar a criatividade e para abrir os caminhos da cooperação. […] Sermos singulares significa que temos representações muito diferentes do mundo, por isso nos enriquecemos com o pensamento dos outros” (Rodrigues, 2015, Público 10 de Abril 2015, p. 45).
Ora, o ensino artístico, as artes e as escolas artísticas começam a representar um bom sinal na construção destas singularidades. Daí a pertinência das escolas artísticas como centros e laboratórios de cultura e de cidadania, onde diferentes gerações aprendem a arte do encontro com os saberes, as técnicas, as estéticas e, principalmente, a arte do encontro com os outros na co-construção e reconfiguração dos mundos pessoais e colectivos. O trabalho constrói-se alicerçado na história, nas memórias e em determinadas visões do futuro mas, fundamentalmente, nas vivências do presente e, deste modo, está-se a contribuir para uma sociedade mais culta e, por essa via, mais democrática.
 
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[1] Texto resultante da conferência apresentada no II Encontro do Ensino Artístico Especializado da Música do Vale do Sousa, sob o tema: Olhares e Geografias Sobre o Ensino da Música, Lousada 15 de Abril de 2015.