terça-feira, 7 de maio de 2013

Aos tempos sombrios contrapõe-se a inteligência, o saber, a resistência e a unidade


Tempos sombrios estes em que vivemos onde a educação em geral, e a educação artística e musical em particular, bem como os seus profissionais, são descartáveis em nome de uma ideologia que está assente numa retórica de contrariar o “desperdício do Estado”, apesar da agiotagem dos juros que são pagos e das fortunas que ganham alguns países, instituições e pessoas individuais e coletivas.

Tempos sombrios estes em que vivemos em que os orçamentos para a educação e a cultura são os mais baixos das últimas décadas, em que a criação dos mega-agrupamentos, das metas curriculares, em nome da “eficácia” e da “qualidade”, esconde uma política reducionista da intervenção do Estado na educação pública. Da redução dos professores, da redução das aprendizagens, da redução dos serviços, da redução da democracia, da redução da cultura, da redução do presente e do futuro.

Tempos sombrios estes em que vivemos em que a luta pela sobrevivência, a incerteza do hoje e do amanhã, coloca professores contra professores, disciplinas contra disciplinas, escolas contra escolas, territórios contra territórios, numa competição e numa espiral de violência simbólica sem precedentes.

Tempos sombrios estes em que vivemos onde a educação parece estar cada vez mais resumida ao trabalhar para os exames, trabalhar para os exames, trabalhar para os exames. E cada vez mais cedo. Exames de modo a que se apareça bem colocado nos rankings. Como se tudo se pudesse medir. Como se o processo complexo de educação e de formação pudesse ser traduzível, apenas, em folhas Excel.

Tempos sombrios estes em que vivemos onde as artes e a cultura parecem querer ser apagadas dos mapas das escolas públicas em nome de uma utilidade e eficácia da educação e da formação para o mundo do trabalho e da competitividade (o que quer que isto signifique).

Contudo, nestes tempos sombrios em que vivemos, cada um de nós, as crianças e os jovens, a educação e a cultura, as escolas e as comunidades, o presente e o futuro merecem mais do que este tipo de políticas, nacionais e europeias, “do quanto pior melhor”, como refere António Nóvoa e, neste contexto, “é sobretudo nas épocas mais escuras que o nosso impulso para a claridade deve ser maior” (Carlos Fiolhais, Público de 18 de Abril, p.43).

Para que haja e continue a haver música na escola, e todas as outras artes, é preciso assumir de uma vez por todas e sem concessões que, como se escreveu numa canção, “é mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa”. Com inteligência, saber e, sobretudo, não embarcando em disputas de uns contra os outros é que ganharemos forças em conjunto para resistir. Repito, as crianças e os jovens merecem-no. Nós também. Pelo trabalho que realizamos, pela valorização do nosso trabalho. Pelo nosso presente. Por uma democracia mais culta.
in ApemNewsletter, abril 2013