As artes em geral e a música em particular, têm vindo a assumir papéis diferenciados na reconfiguração das identidades de públicos vulneráveis mobilizando modalidades e processos participativos e criativos em que as crianças, os jovens e os adultos não são meros agentes passivos, mas ocupam uma centralidade na co-construção do trabalho artístico e formativo. À aprendizagem individual de um instrumento, dominante no sistema educativo português, contrapõe-se a aprendizagem coletiva que questiona não só várias dimensões políticas, artísticas, técnicas e sociais da educação musical com também abre perspetivas de reflexão mais consentâneos com as complexidades, ambiguidades e incertezas das sociedades contemporâneas e que exigem à educação, e em particular à educação artística e musical, outros olhares teóricos e práticos que fomentem as práticas musicais nos interior das escolas (Barret & Webster, 2014, Joly & Joly, 2011, Mota & Lopes, 2017) .
Neste contexto, o projeto “Outras bandas – Instrumentos de Inclusão” é um projeto de intervenção e de investigação, promovido pela Câmara Municipal de Almada, em que se criaram um conjunto de cinco agrupamentos de sopros em Agrupamentos de Escolas do concelho de Almada, e que procurou, através da aprendizagem coletiva de instrumentos e de práticas musicais de conjunto e colaborativas, contribuir para a reconstrução das identidades de crianças e jovens, entre os 10-15 anos, oriundos de contextos desfavorecidos e com problemas ao nível do sucesso escolar e da sua (re)ligação com os saberes.
Assim, partindo deste projeto e da análise de um conjunto diversificado de material, esta comunicação tem um duplo objetivo. Por um lado, problematizar a aprendizagem coletiva de instrumentos e das práticas musicais coletivas como modalidades possíveis na reconfiguração da música no interior das escolas e do reolhar para os desafios que se colocam à Educação Musical e, por outro, discutir teórica e politicamente o que designo por “uma ecologia de ação artístico-musical” em que, mobilizando conceitos de diferentes geografias académicas e intelectuais, procuro defender a ideia de que a reconfiguração das práticas musicais no interior das escolas assenta num outro quadro paradigmático baseado na existência de narrativas e ideias partilhadas e na reciprocidade cooperativa e colaborativa entre os diferentes tipos de comunidades de práticas artísticas e musicais (Vasconcelos, 2004; Wenger, 2016).
Comunicação apresentada na Conferência Internacional CIPEM 2019 “Desafios em Educação Musical", em 19 setembro 2019.
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