Escrever, de um modo sintético, sobre a formação contínua de professores de educação musical e de música, num tempo caracterizado por incertezas e absurdos, no que se refere às políticas públicas no âmbito da educação e do desenvolvimento profissional dos professores, parece ser uma tarefa condenada ao fracasso e à inutilidade.
Fracasso e inutilidade uma vez que não só existe o congelamento das carreiras profissionais como também o desemprego e a instabilidade dos que têm trabalho se afiguram dimensões que entraram em definitivo nos quotidianos profissionais e particulares de cada um de nós. Nunca ao longo da História da Educação Pública em Portugal e da História da Profissionalidade docente, e em democracia, se viveram tempos que atingissem tão profundamente, e quase exclusivamente, uma das classes profissionais mais qualificadas do país.
Ora, convém relembrar que no relatório Mundial de Educação de 1998, editado pela Asa, a Comissão Internacional da Educação para o século XXI da UNESCO, refere não só que “o tempo de aprender á agora a vida inteira”, como também “os professores têm um papel crucial a desempenhar na preparação dos jovens não só para que estes enfrentem o futuro com confiança mas para que o construam com determinação e responsabilidade”. Por sua vez, Frederico Mayor, enquanto Diretor-geral da Unesco escreve no prefácio que “os professores merecem todo o nosso encorajamento e apoio”.
Lidas hoje estas frases parecem pertencer a um domínio de ficção científica.
Assim, e num momento em que tudo parece ruir à nossa volta, e de, muitas vezes, a falta de perspetivas presentes e futuras nestes tempos absurdos, o investimento em nós, de que fala Claude Dubar, é algo que se apresenta como uma das dimensões estruturantes de construção não só da nossa profissionalidade como também um instrumento de reconfiguração das nossas práticas e de preparação e segurança no futuro por mais incerto e imprevisível que ele se afigure.
A APEM, dando continuidade ao percurso iniciado pelos seus fundadores no início da década de setenta do século passado, procura, à sua maneira, contribuir para que a incerteza e imprevisibilidade dos futuros sejam contrabalançadas com saber e conhecimento.
E se há um grande desrespeito político e de políticas por esta classe profissional nós pelo menos temos de nos respeitar enquanto pessoas, enquanto educadores, enquanto profissionais competentes e sabedores e, contra ventos e marés, continuar a desempenhar o nosso crucial papel na preparação das crianças e dos jovens. Para que possamos pensar e contribuir para que tenham outros futuros.
Se não cuidarmos de nós quem cuidará?
(in ApemNewsletter, março 2013)
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