As
artes e a cultura têm-se revelado como instrumentos relevantes no
desenvolvimento e na qualidade de vida dos participantes envolvidos, quer como
‘agentes passivos’, quer sobretudo como ‘agentes ativos’ nos processos
artísticos e criativos. De acordo com Matarasso (1997) os projetos artísticos
podem contribuir não só para a inclusão social como também melhorarem a
autoconfiança e o bem-estar dos participantes permitindo também ajudar a
combater estereótipos e a discriminação.
Como refere este autor “O potencial da arte no desenvolvimento humano
está a ser canalizado para o apoio ao crescimento de indivíduos e de grupos
comunitários e para a promoção da inclusão social. A sua capacidade de
empoderar pessoas vulneráveis e marginalizadas” (Idem, 2019:11), centra-se no
fato de que “as artes são formas de moldar a experiência, de encontrar caminhos
de vida que façam sentido, através da transformação imaginativa” (Levine,
2009:18).
E
neste encontrar caminhos com sentidos, a reconstrução identitária e a pertença a
um determinado grupo social e/ou comunidade é essencial para o bem-estar das
pessoas e para a sua qualidade de vida (Ansdell, 2015). Alguns estudos
evidenciam que as artes se constituem como recurso para a autorreflexão e o
trabalho autobiográfico e ajuda nos processos mentais e está intimamente
associado à memória e a modalidades de experiência emocional (DeNora,2013). O
potencial das artes no contexto da intervenção social com pessoas em situação
de sem-abrigo “reside numa estratégia ‘bottom-up’”, valorizando as suas
necessidades e desejos através de atividades que lhes permitam pensar e
sentirem-se parte da sociedade, “de fazerem parte duma rede sem hierarquias,
criando relações humanas significativas, de confiança e amizade entre si”,
partilhando e assumindo
responsabilidades em diferentes graus (Marques, 2013).
Neste
contexto, as problemáticas relacionadas com as artes, inclusão e bem-estar
requerem um paradigma social e uma ecologia que assume as atividades artísticas
e criativas como prática social incorporada. Este foco ecológico implica ir
além das perspetivas que veem estas atividades como um estímulo, um complemento
ou uma ferramenta que pode ser mobilizada para os processos de inclusão. Os
papéis, os usos e funções das atividades artísticas como prática cultural e
social, e como uma prática subjetiva e partilhada, podem potenciar a criação de
sentidos e conexões plurais (Xavier, 2011, Cruz, 2019). Os impactos produzidos
pela participação em atividades artísticas são salientados nos relatórios “The
Arts and Social Exclusion: a review prepared for the Arts Council of England”
(2001) e “Social Impacts of Culture and the Arts WA” (2019), referindo
que esta participação pode resultar numa ampla gama de efeitos positivos com
resultados mensuráveis na saúde e bem-estar, educação e capital social.