sábado, 30 de janeiro de 2021

Artes, Inclusão e Bem-estar

 

As artes e a cultura têm-se revelado como instrumentos relevantes no desenvolvimento e na qualidade de vida dos participantes envolvidos, quer como ‘agentes passivos’, quer sobretudo como ‘agentes ativos’ nos processos artísticos e criativos. De acordo com Matarasso (1997) os projetos artísticos podem contribuir não só para a inclusão social como também melhorarem a autoconfiança e o bem-estar dos participantes permitindo também ajudar a combater estereótipos e a discriminação.  Como refere este autor “O potencial da arte no desenvolvimento humano está a ser canalizado para o apoio ao crescimento de indivíduos e de grupos comunitários e para a promoção da inclusão social. A sua capacidade de empoderar pessoas vulneráveis e marginalizadas” (Idem, 2019:11), centra-se no fato de que “as artes são formas de moldar a experiência, de encontrar caminhos de vida que façam sentido, através da transformação imaginativa” (Levine, 2009:18).

E neste encontrar caminhos com sentidos, a reconstrução identitária e a pertença a um determinado grupo social e/ou comunidade é essencial para o bem-estar das pessoas e para a sua qualidade de vida (Ansdell, 2015). Alguns estudos evidenciam que as artes se constituem como recurso para a autorreflexão e o trabalho autobiográfico e ajuda nos processos mentais e está intimamente associado à memória e a modalidades de experiência emocional (DeNora,2013). O potencial das artes no contexto da intervenção social com pessoas em situação de sem-abrigo “reside numa estratégia ‘bottom-up’”, valorizando as suas necessidades e desejos através de atividades que lhes permitam pensar e sentirem-se parte da sociedade, “de fazerem parte duma rede sem hierarquias, criando relações humanas significativas, de confiança e amizade entre si”, partilhando e assumindo  responsabilidades em diferentes graus (Marques, 2013).

Neste contexto, as problemáticas relacionadas com as artes, inclusão e bem-estar requerem um paradigma social e uma ecologia que assume as atividades artísticas e criativas como prática social incorporada. Este foco ecológico implica ir além das perspetivas que veem estas atividades como um estímulo, um complemento ou uma ferramenta que pode ser mobilizada para os processos de inclusão. Os papéis, os usos e funções das atividades artísticas como prática cultural e social, e como uma prática subjetiva e partilhada, podem potenciar a criação de sentidos e conexões plurais (Xavier, 2011, Cruz, 2019). Os impactos produzidos pela participação em atividades artísticas são salientados nos relatórios “The Arts and Social Exclusion: a review prepared for the Arts Council of England” (2001) e “Social Impacts of Culture and the Arts WA” (2019), referindo que esta participação pode resultar numa ampla gama de efeitos positivos com resultados mensuráveis na saúde e bem-estar, educação e capital social.