A música, tal como as artes em geral,
é objeto de fascínio no quadro das vivências das crianças e dos jovens.
Apresentando um conjunto de características que aliam modos diferenciados de
apropriação e compreensão de diferentes mundos, reais e imaginários, formas de
criação e recriação de identidades, individuais e coletivas, a par do
entretenimento, os diferentes usos e funções da música nas sociedades
contemporâneas afiguram-se como elementos geradores de possibilidades de
encantamento e/ou reencantamento com os espaços sociais, culturais, artísticos
e formativos.
Contudo, as artes na escola,
apresentam-se, muitas vezes, como elementos marginais em relação à hegemonia
dos “saberes escolares”, modalidades de trabalho e de avaliação. A
desvalorização dos saberes escolares por parte de algumas crianças e jovens
conduz a situações de exclusão e de indisciplina diferenciada a que nem sempre
o Estado e as escolas conseguem dar resposta através de políticas públicas que
contribuam para a reconfiguração da relação complexa entre
saberes-escolas-estudantes-presente-futuro.
Neste quadro, a aprendizagem de um
instrumento e as práticas artístico-musicais associadas, constituem-se, por seu
lado, como um desafio interessante por aliar simultaneamente, a disciplina, o
rigor, as técnicas, as criatividades, o trabalho individual e coletivo, e as
emoções inerentes ao ato do estar em palco, de apresentar publicamente o
trabalho, com as suas ambiguidades e riscos mas também desafios na construção de
um bem comum.
Deste modo pensar-se num projecto relacionado
com “Música e Inclusão” implica pensar-se num conjunto de três eixos principais:
participação e envolvimento, conhecimento e difusão e avaliação.
Participação e envolvimento. Tendo como centralidade a criança e do jovem o projecto terá
necessariamente de fomentar a sua participação como actores na co-construção do
trabalho educativo, formativo, artístico e cultural. Esta participação pressupõe
um envolvimento activo em que se atendem às expectativas e saberes em presença
e aos desafios que se colocam nos processos de inclusão e de recriação
identitária
Conhecimento e difusão. O projeto ao procurar afirmar-se como um instrumento de
inclusão que fomente o sucesso escolar e potencie a diminuição do abandono
precoce e da indisciplina no interior das escolas implica a investigação de
práticas sociais, artísticas, culturais e intergeracionais da qual resulta a
construção e difusão de conhecimento que contribua para a compreensão e
intervenção neste tipo de realidade complexa.
Avaliação. A
avaliação do trabalho, nas suas diferentes dimensões, apresenta como um
elemento estratégico que, partindo das práticas em contexto, permite, por um lado,
alicerçar e sustentar o trabalho e, por outro, reorientá-lo nos pontos que se
considerem pertinentes.
Assim, e tendo em consideração a
experiências e vivências das crianças e jovens, adequabilidade e criatividades
são dois dos conceitos que emergem ao pensar-se a relação “aprendizagem musical
– inclusão”, atendendo a que estamos em presença de motivações e interesses
heterogéneos. Adequabilidade (a) de modo a apreender a diversidade de
experiências de aprendizagens em vez de se focalizar nos saberes que são reconhecidos
e valorizados pelo “saber escolar”, (b) de uma prática educativo-artística em
que as aprendizagens são co-construídas e centradas na articulação entre as
pessoas em concreto e os saberes em presença, e a desenvolver, interligando o conhecimento
interpares, o formal, o informal e o não formal. Criatividades, em que o
envolvimento e a participação nas atividades musicais criativas podem ser um
contributo importante na construção dos sentidos e no desenvolvimento de
competências e saberes técnicos e artísticos.
Impactos desejáveis
Embora não exista uma
relação linear causa/efeito entre os pressupostos ierentes à relção “Música e
Inclusão”, a organização da formação e os desempenhos curriculares das crianças
e dos jovens envolvidos, a operacionalização e de um projeto multipolar e multifuncional
deixa antever um conjunto de impactos que podem ser sintetizados em:
Reforço das competências globais das crianças e dos jovens. O trabalho em equipa, o
desenvolvimento do sentido coletivo do trabalho, a disciplina e o esforço
individual e coletivo, o prazer de fazer música e de tocar em público visam
permitir o combate às discriminações no acesso aos saberes artísticos, combater
os estereótipos, contribuir para a melhoria no que se refere à motivação, à
auto-estima, ao cumprimento de determinadas tarefas e, por esta via reconfigurar
a sua relação com os saberes académicos
que poderão ter impactos positivos nos desempenhos escolares;
Reforço de conhecimentos em diferentes áreas do saber. Para além das questões de natureza
particular relacionadas com os saberes inerentes à prática musical (técnicos,
estéticos, sociais e culturais),os projetos pretendem contribuir para o
desenvolvimento e fortalecimento de competências básicas, pessoais e sociais
junto de jovens socialmente desfavorecidos, através da dinamização da prática
musical e abrir portas à exploração de possíveis articulações com outros
saberes, também de natureza mais académica;
Inclusão e desenvolvimento social e comunitário. Reforçar a proximidade das famílias
às escolas e à cultura estimulando o acompanhamento que estas fazem do trabalho
artístico-musical das crianças e jovens, bem como o seu envolvimento direto em
projetos artísticos, pode incrementar a motivação e a coesão familiar assim
como contribuir para a inclusão e capacitação das crianças e jovens mais desfavorecidos
potenciando o seu afastamento de comportamentos de risco;
Cidadania. Ao incentivar-se a responsabilidade individual e coletiva, o
contacto com diferentes mundos artísticos, pessoais e organizacionais, o
contacto com diferentes imaginários e modalidades de trabalho, o respeito pelo
trabalho desenvolvido e a aproximação a tarefas mais exigentes e cultas deixa
antever a possibilidade de reconfigurações identitárias e uma cidadania mais
culta e participada. Pretende-se reforçar a participação cultural e
comunitária, nomeadamente através da disponibilização de outros contextos de
aprendizagem não formal e de ligação a estruturas associativas e artísticas de
base local, nacional e transnacional
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